April 13, 2010

Pequenos e grandes "ódios"

Hoje sinto-me especialmente sufocada... sinto que sou uma bomba quase a implodir. Tenho ressentimentos que me perseguem há anos, que pensava já estarem superados, mas que afinal persistem no tempo. Não consigo perdoar! Não consigo esquecer! Continuo ferida quando já não faz sentido. Estou presa, revoltada, com um nó na garganta... apetece-me dizer tudo o que sinto. A consequência disso seria desvastadora, o sentimento de culpa iria substituir a raiva. A alternativa é escrever neste canto em que posso ser eu.

Sinto que a minha vida está bloqueada por tudo isto. Sinto-me incapaz de amar. Não permito nem consigo abrir o coração. Para mim viver é doloroso. Não consigo perceber a tal "joie de vivre". Estar vivo é extremamente penoso, dói profundamente e não tem qualquer significado especial. Se assim sinto sou logo catalogada como estando deprimida. Já estive com uma depressão, sei como é ... não me sinto doente. Nunca fui diferente. Aprendi e cresci a ser sombria. Lutei a minha vida toda por ter outra alternativa e neste momento estou cansada.

Vivi sempre em função dos outros, de acordo com a necessidade dos outros, e da forma como os outros acham que devo ser. Fui-me traindo dia após dia. Cheguei a este ponto em que os culpo e não perdoo. Mesmo sabendo que o permiti, mesmo sabendo a minha responsabilidade nisso tudo... não consigo evitar.

Tudo se foi repetindo ao longo da vida e de todas as relações. Como que se houvesse uma demente necessidade de ter na minha vida pessoas que não me fazem feliz. Como que se só fizesse sentido viver com este tipo de sentimento.

Hoje em dia refugio-me na minha casa. As minhas cadelas são a única fonte para mim de bem estar. Só me sinto bem em casa com elas. Tudo o resto é extremamente penoso. Sou sociável e lido bem com as pessoas em geral, mas não deixo ultrapassar a barreira. Alguém que tente passar o limite é completamente afastado e trocidado por mim.

Odeio pessoas específicas... não consigo perdoar que tenham vivido as suas vidas sem nunca pensarem nas consequências para mim. Fui usada de acordo com as suas necessidades. Obrigaram-me a aprender a lidar com isso e a construir o meu caminho, sempre sozinha e sem rede. Hoje sou auto suficiente. Hoje estou bem. E é hoje que me exigem que volte ao que era. Pedem-me que me anule novamente porque a idade e a doença os faz precisar de mim.

Depois vem a raiva... pensei que já me tinha libertado de sentimentos antigos. Mas eles regressaram com as exigências. Depois vem o ódio, seguido da vontade de dizer tudo... e dizendo muito com muita intensidade, são surpreendidos por esses sentimentos duros. Depois vitimizam-se, ficam ofendidos e magoados. Sou má e dura.... tenho um feitio péssimo e afasto as pessoas. Depois vem o sentimento de culpa que me é incutido e por mim aceite.

Só tenho vontade de chorar por ser assim... dura. Mas também conheço o meu lado generoso. Ele existe. Sou solidária... sou correcta e justa. Mas esses aspectos não são reconhecidos. A maioria das pessoas que lida comigo não me conhece. Sinto-me traída pelas pessoas mais próximas. A traição causa-me humilhação.


Sou impulsiva, violenta com as palavras. Odeio injustiça. Odeio que humilhem as pessoas que gosto. Muito menos em público. Não medem as palavras nem os actos. E não gostam de ser confrontados com isso. E novamente vitimizam-se porque não tiveram a intenção de magoar. Como se não fosse esse o único objectivo... magoar quem já está com baixa auto-estima. Aliás o mais fácil é humilhar alguém que esteja com as defesas em baixo. Parecem abutres. A retirar energia a quem mais precisa dela.

Odeio injustiça. Odeio sentir-me assim com tanto ódio dentro de mim. Odeio esta vida. Odeio faltar-me a coragem para ter outra bem diferente.

Sei que tudo depende de mim. Tenho consciência do que acontece e como acontece e com que objectivo. E estou a ter uma extrema dificuldade em sair deste circlo. Estou atada de pés e mãos... acho que é medo. Tenho medo. E acima de tudo falta-me a força para o enfrentar. E estou a morrer por dentro. Sinto que me estou a desfazer por dentro... que estou a definhar. Sou nova e com garra e estou a ir para um sítio escuro e sem volta. Não sei o que fazer.

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